Impossível não se emocionar, distante fisicamente de Touros, e ao mesmo tempo resgatando lembranças de momentos vividos nesse chão aonde desfrutei boa parte de minha infância, de minha juventude, de minha vida, mesmo não sendo filho natural do lugar.
E assim, a memória vai voltando a tempos passados quando presenciava o senhor Francisquinho de Gustavo produzindo chumbadas que seriam utilizadas no labor diário dos pescadores; Lourival Colônia, esposo de minha tia Maria (Maria de Louro) chegando do mar com o peixe para a venda e para o sustento da família, e ali eu partilhava o peixe fresco juntamente com os seus filhos; os banhos de mar por toda a manhã com os primos e de lá para o rio da barreira; a ida ao tourinho para pescar lagostinho com Zequinha (Zequinha Cabelo).
A cidade em seu crescimento, com características de vila, tinha o peixe como seu alimento principal e ainda não desfrutava de supermercados, açougues, postos de combustíveis, etc. Nos retornos dos finais de semana, os visitantes abasteciam os seus veículos no comércio do senhor Joaquim Gomes; as famílias criavam patos, galinhas no próprio quintal, de forma que ao não ter o peixe, tinham as aves como alimento.
No aspecto cultural a presença marcante e respeitada do grupo as Bandeirinhas durante os festejos juninos; o Côco de Roda na Colônia de Pescadores; no carnaval o grupo dos indíos do senhor Cisco Pinico, A Ala Ursa de Belchior e seu Filho Luquinha; o Zé Pereira, no sábado de carnaval; os papangus pelas ruas; blocos carnavalescos, com destaque para Os Caramujos, tendo como anfitriã Ivonete Lopes, juntamente com meus pais (Sebastião e Neide Penha) e a participação massiva de tourenses, bloco este alusivo ao trabalho de combate ao caramujo, por parte do Ministério da Saúde, com a instalação de banheiros de alvenaria nas residências. A versão da música do bloco dizia mais ou menos assim: “Nós os caramujos, aqui em Touros somos os maiorais, mas na hora do combate é da Sucam que gostamos mais”.
Outras lembranças são os momentos de reunião de Nilson Patriota com os meus pais, na casa de Francisquinho Dú, para cantarem as poesias de Porto Filho, ao som dos violões de José Antão e José Maria; nesses mesmos momentos escutar Damião de Souza (Damião Caquica) cantar Adeus a Touros.
Quando já na maturidade da juventude, a realização da I Semana de Cultura, em janeiro de 1988, com a participação da comunidade tourense e a realização de apresentações as mais variadas (o mamulengueiro Chico Daniel, o músico Bráulio Tavares e as representações da cultura tourense); posteriormente a criação da Fundação José Porto Filho, em janeiro de 1989; toda essa intensidade cultural na companhia de pessoas como Bosco Teixeira, Roberto Patriota, Iran Potiguar, Ivanildo Penha e tantos outros tourenses que se envolveram no resgate da cultura local.
Foram movimentos e campanhas nada fáceis, em função de serem vistos como uma ameaça ao status quo da elite política local.
175 anos de emancipação política, olhando para a realidade de Touros, o seu peso cultural e histórico, a proximidade com a capital do Rio Grande do Norte e o crescimento de outras cidades por esse Brasil a fora, é possível perceber que o débito dos dirigentes políticos e o seu descompromisso com o município é cada vez maior.
A luta e a esperança por dias melhores continuam a manter acesa a chama da transformação em meu coração. Parabéns, Touros, parabéns povo de Touros e fiquemos com estes versos de minha autoria neste dia de festa:
Não nasci nas trincheiras da velha Ribeira
Mas sou um canguleiro
Pois dos peixes do mar
O cangulo é o prato mais gostoso que eu comi
Foi na praia de Touros
Na casa de Louro
E de tantos outros mais
A lição dessa escola
Aprendi com a viola
Lá nos seus quintais.
É tanta emoção
A história desse chão
Galo canta, na campina
Ode a Touros
Bom Jesus
Sinta a fé desse seu povo
Porto Filho
O poeta popular
Zé Padeiro a pular
Da matriz lá do lugar.