Aldo da Fonseca Tinoco era estudante do Atheneu Norte-rio-grandense quando despertou para a luta e participação política, defendendo a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial (1939-1945), contra o Eixo do nazi-facismo (Alemanha, Itália). “Nós acreditávamos que o nazismo era um grande retrocesso para a humanidade. A democracia a gente entendia como a participação do povo em benefício do povo, e não do privilégio de uma classe. Então, como estudantes nos engajamos na luta da esquerda, porque achávamos que a esquerda era a grande esperança para a humanidade”, avaliou.
Após a conclusão do segundo grau, ingressa no curso de Odontologia, em Fortaleza, já que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, só foi criada em 1958. Na mesma época, entra para o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Ao concluir o curso de Odontologia, parte para o curso de Direito, em Alagoas.
O professor Aldo Tinoco sempre teve como referência política a bandeira nacionalista. Mesmo com o partido comunista na ilegalidade, continuou a participação em outras agremiações. “Getúlio foi esta grande liderança, no nosso entender, pelo fortalecimento econômico do país. A luta da Petrobrás e daí, hoje, a Petrobrás, essa potência, foi conseqüência daquelas lutas do povo e Getúlio à frente. Era a intervenção do Estado no campo do desenvolvimento econômico”, disse.
Na década de 50, pertencendo ao Partido Social Progressista (PSP), de João Café Filho, sai candidato a deputado estadual e fica na condição de suplente. Nesse período assumiu várias vezes o mandato, já que os deputados viviam de licença.
Em seguida entra para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), onde se lança candidato a deputado federal e mais uma vez fica na suplência. “Militei no PTB com Clovis Mota. O PTB de Jango e Brizola; não esse PTB que está aí. Fui secretário geral do partido, aqui no Rio Grande do Norte, e Clovis Mota era o presidente, afirmou”.
Nos anos 60, Tinoco, na condição de professor universitário, era aluno da pós-graduação, na especialização em saúde pública, da Universidade de São Paulo – USP e teve que retornar ao Rio Grande do Norte, em função de um Inquérito Policial Militar – IPM, sob a orientação dos policiais pernambucanos Carlos Moura de Morais Veras e José Domingos da Silva, responsáveis pela Comissão de Investigações, instituída pelo governo estadual.
Aldo foi preso e passou 04 meses no 16º Regimento de Infantaria, 16ºRI. Do Regimento foi transferido, juntamente com o ex-deputado Floriano Bezerra, Djalma Maranhão e Luis Maranhão Filho, para a ilha de Fernando de Noronha, mesmo com um habeas-corpus já concedido pela justiça militar. “Quando eu tava preso no quartel os policiais não deixavam a gente abraçar os filhos”, revelou.
“Na quase escuridão daquele amanhecer, desconfortavelmente acomodados nos bancos de um caminhão militar, os presos conjeturavam sobre seus destinos. Levados ao aeroporto pelo capitão Lacerda, certificaram-se de que seriam transferidos para prisões em outros Estados ou para a ilha de Fernando de Noronha. Admitiam, também, com muita preocupação, que poderiam ser jogados do avião para a morte no mar, como se comentava que já havia acontecido com alguns prisioneiros políticos”. (GALVÃO, 2004 a, p.184).
Preso por mais de 30 dias no quartel do Exército, era tratado com respeito. Saiu da prisão, em Fernando de Noronha, com a chegada do general Ernesto Geisel, então chefe da Casa Civil do Presidente da República, que foi verificar a situação dos presos políticos. Aldo e o governador Miguel Arraes foram para o Recife, no mesmo avião com o general.
O professor, posto em liberdade, em vez de retornar a Natal fugiu para o Rio de Janeiro e ficou por um período na clandestinidade. “Aqui soltavam um preso e prendiam de novo. Sabendo disso não voltei pra cá e a casa,aqui, já estava cercada. O habeas-corpus que eu tinha era do Superior Tribunal Militar; não valia nada”, concluiu.
Terminado o processo político-militar, com duração de aproximadamente quatro anos, incluindo prisão domiciliar, o professor Aldo voltou para a conclusão do mestrado e foi convidado pela USP para ser professor. Passou trinta anos, entre o período de mestrado, doutorado e livre-docência; aposentou-se como professor da USP, onde fundou a disciplina Direito da Saúde, que após a sua aposentadoria ficou sob a responsabilidade da professora Sueli Dallari, esposa do jurista Dalmo Dallari. “Eu saí titular da USP. A revolução me prestou esse benefício”, afirmou.
De início, Aldo não demonstrou interesse em ficar definitivamente na USP; queria voltar para viver e trabalhar em Natal. Mas, como a cidade era pequena e, diante do momento político, resolveu ficar em São Paulo. “Aqui, a gente, naquela época, vivia uma situação estranha. Você ia pela calçada, vinha um amigo; ele já mudava pra não falar com a gente. A gente era assim, meio marginalizado. E a turma sempre de olho como se a gente fosse perigoso; era só uma luta de idéias”, desabafou.
A sua decisão de ficar em São Paulo permitiu levar a esposa e os filhos, que tiveram toda a sua formação instrucional em escolas e universidades paulistas.
Com a redemocratização, em meados da década de 80, e a criação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), sob a liderança de Leonel Brizola, Tinoco saiu candidato a governador do Rio Grande do Norte, em (1986), pela sigla Brizolista, disputando a vaga com Geraldo Melo, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e João Faustino, do Partido da Frente Liberal (PFL).
Em 1996 foi candidato a prefeito de São Gonçalo do Amarante, cidade em que nasceu, pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN).
Apesar de estar aposentado, o professor Aldo Tinoco é constantemente convidado para bancas examinadoras de teses, dos alunos da Universidade de São Paulo. “Participei de muitas bancas no país todo; do Rio Grande do Sul ao Amazonas. A USP permitia isso. Aqui, eu participei de algumas bancas, mas, agora, professor aposentado e velho, né... Os velhos são superados”, desabafou.
“Do alto dos seus oitenta anos”, como diz a canção, revelou a decepção com a maioria das siglas partidárias. No seu ponto de vista são siglas de aluguel que não apresentam um projeto de desenvolvimento para o Brasil.
Hoje se dedica a criação de minhocas, produção de rapadura e mel de engenho e desenvolve a apicultura (criação de abelhas) em uma propriedade no município de Macaíba, para onde se desloca diariamente.
O professor encerrou a conversa com descontração: “Na USP eu fui chefe de departamento eleito e reeleito. Hoje, aqui em Macaíba, eu sou “Seu Aldo das Minhocas”, porque eu crio minhocas na fazenda e sou pioneiro, aqui, na criação de humo de minhocas”.
Um comentário:
Boa tarde estou tentando falar com o Sr. Aldo da Fonseca Tinoco, pois sou historiador da cidade de Macaíba, mas não estou conseguindo muitas informações sobre ele, peço se possível me informar como entro em contato com ele abraços. Eden da Silva Oliveira, historiador.
e mail para resposta: edenoliveira12gmail.com. Abraços e até mais.
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