domingo, 21 de março de 2010

LEMBRANÇAS DO TERROR-Miranda Sá


Henrique Miranda Sá Neto, um menino que presenciava os pais discutirem os problemas políticos do Brasil dentro de casa, acompanhou o fim da 2ª Guerra Mundial, o fim da ditadura Vargas (1937-1945) e a redemocratização. “Não somente meu pai era um homem de formação, primeiramente positivista e depois socialista. O que me levou a acreditar no socialismo e ir buscá-lo, e tive a feliz coincidência de ser vizinho do Partido Comunista, que foi para a legalidade naquela época”, esclareceu.

Nessa fase vai para o ginásio, influenciado por essas idéias; participa das lutas no grêmio estudantil da escola, reforçado pelo idealismo do pai, que chegou a dirigente do partido. “Com a denúncia do stalinismo, a minha decepção com o culto da personalidade, do partidão, me levou a procurar outros caminhos. Eu fiquei meio tonto, mas precisava levar adiante os meus ideais. Encontrei, primeiramente, o Partido Socialista, onde fundei a juventude socialista. O PSB de João Mangabeira”, justificou.

Em dezembro de 1959, passou a ser editorialista do jornal “Correio da Manhã” e foi convidado para montar o jornal “Evolução”, na Paraíba. Em seguida passa a ser correspondente do jornal, “A União”, sediado em João Pessoa. Nessa época manteve a militância no Partido Socialista, com um trabalho ligado às Ligas Camponesas, de Francisco Julião, e ao movimento estudantil.

No período da renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, Miranda foi preso, por 24 horas, em Fernando de Noronha e depois transferido para o 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa, o 15ºRI. A liberdade chega no 7 de setembro de 1961, em que João Goulart foi empossado como presidente.

De Campina Grande, retorna para o Rio de Janeiro e ocupa a função de Oficial de Gabinete do Ministro da Justiça de Goulart, João Mangabeira.

Em 07 de maio de 1964, se apresenta aos militares, e fica preso por 112 dias, entre Campina Grande, João Pessoa e Recife.

O jornalista, aluno da Faculdade de Economia, foi expulso, juntamente com o reitor da Universidade da Paraíba, Mário Moacir Porto, e o diretor da escola, Cléber Cruz. Ambos (Mário e Cléber) tinham sido condecorados com a medalha da Federação Internacional da Juventude, pelo pioneirismo em dar representação de um terço, aos estudantes, nos Conselhos Universitários.

Mantinha um emprego, obtido por concurso, no Instituto de Aposentadoria dos Industriários – IAPI, como tesoureiro, e ao chegar em João Pessoa foi novamente detido pelo Centro de Informações da Marinha - CENIMAR. Ao prestar depoimento aos militares, Miranda foi ameaçado. “O capitão-tenente da Marinha foi de uma franqueza extraordinária comigo. Ele disse: olha, você não tem jeito não; você vai perder seu emprego, vai ser preso e se você puder escapar, escape”, desabafou.

De volta ao Rio de Janeiro, o clima político inviabilizou o trabalho no jornalismo. Sá Neto foi trabalhar em uma rede hospitalar, fruto de um curso em administração hospitalar, incentivado por um médico amigo; ficou trabalhando durante dois anos nessa área.

Soube que o jornalista Milton Coelho da Graça, dirigente, à época, da Editora Abril e responsável pela edição da revista “Intervalo” (revista de fofocas de televisão) estava procurando um jornalista, com o perfil de Miranda, para dirigir a revista. A perspectiva de voltar ao jornalismo, fez o militante ir para São Paulo, em 1972.

A partir do trabalho em São Paulo, retorna à militância na trincheira socialista e nos movimentos de redemocratização do Brasil, que agiam na clandestinidade.

A sua terceira prisão foi no final da década de 70, em que um grupo paramilitar colocou uma bomba que explodiu no banheiro da Associação Brasileira de Imprensa – ABI. Quando soube do ocorrido, Miranda partiu para a sede da ABI, já que era conselheiro da entidade, e foi pego com um panfleto do Comando de Caça aos Comunistas – CCC, dos muitos que estavam espalhados pelo chão, responsabilizando o Comando pelo atentado. Pediu a um dos fotógrafos presentes que fotografassem o panfleto para publicação. Preso na hora e liberado após a explicação do que havia acontecido, foi para casa. Ficou surpreendido com as pessoas batendo na porta do apartamento dele, perguntando se estava vendendo um carro lá embaixo. Realmente tinha o carro para vender. Desceu, jogaram um saco na cabeça dele, seqüestraram e levaram para um lugar que até hoje não consegue identificar. Ficou preso durante 12 horas.

Depois de toda essa tempestade, Miranda segue para Caracas, Venezuela, para representar a ABI em um Congresso Internacional de Jornalistas. Ao chegar ao aeroporto Galeão/RJ, depois do check in, foi levado por militares; recebeu voz de prisão por subversão. Estava com uma autorização do chefe da Casa Civil da Presidência da República, o general Golbery do Couto e Silva, conseguida por Pompeu de Souza, representante da ABI, em Brasília. Na época, só se saía do Brasil com um depósito financeiro antecipado, ou autorização oficial.

Ficou fora do Brasil, com medo de retornar, fazendo conferências sobre a realidade brasileira. Partiu para a Europa, através da Federação de Transportes e Comunicação da Bélgica, e fez um curso de comunicação na Alemanha.

Após um exílio de nove meses, chegou ao Brasil sem perspectiva e procurou a Cooperativa dos Jornalistas do Rio de Janeiro – COOPIM. A Cooperativa estava precisando de alguém para ser o responsável pelo novo projeto editorial da “Tribuna do Norte”, com a inovação da impressão em offset. Foi assim que Miranda veio para Natal, convidado por Aluízio Alves, em 1979; passou dois anos e alguns meses na “Tribuna do Norte”.

Através da amizade com João Batista Machado, Assessor de Imprensa do prefeito de Natal, José Agripino Maia, ficou na Assessoria de Imprensa da Prefeitura; depois no Governo do Estado.

Nesse período fundou o semanário Jornal de Natal, juntamente com o jornalista Airton Bulhões e outros companheiros, e continuou na atividade jornalística.

A militância política em Natal, foi fruto da amizade com Leonel Brizola, no exílio. “Brizola foi um dos mais humanos líderes da minha geração”; outro, é o atual Ministro da Defesa (2006), Waldir Pires, com quem tive oportunidade de morar”, revelou.

Fundador do Partido Democrático Trabalhista – PDT, no Rio Grande do Norte, foi candidato a senador em 1986, na chapa do Dr. Aldo da Fonseca Tinoco, o candidato a governador.

Posteriormente foi candidato a vereador e indicado pelo PDT para o cargo de Coordenador de Administração e Editoração do Departamento Estadual de Imprensa – DEI – na administração Wilma de Faria. “Fui indicado pelo meu partido para a Imprensa Oficial; o meu partido rompeu com Wilma e eu apresentei uma carta a ela, entregando o cargo. Ela me manteve e eu estou até hoje afastado do partido e servindo ao governo Wilma, onde me sinto muito à vontade, concluiu”.

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