quinta-feira, 4 de março de 2010

EMOÇÕES RIMADAS - José Porto Filho


A Fundação José Porto Filho, criada em janeiro de 1989, na cidade de Touros, publicou a 2ª edição do livro do poeta, “Emoções Rimadas”, em dezembro de 1990. A primeira edição é de 1941.

A edição foi um esforço conjunto da instituição cultural, da Prefeitura Municipal de Touros, com o apoio do Jornal de Natal.

BREVES NOTAS SOBRE PORTO FILHO
José Porto Filho nasceu em Touros, em 31 de agosto de 1887. Foram seus pais José Martins de Vasconcellos Porto e Isabel Emiliana Porto. Parte de sua mocidade passou-se em Belém do Pará, onde foi funcionário da Estrada de Ferro Belém-Bragança, ao tempo em que prestou alguma colaboração à Folha do Pará. Em 1917, casou-se com Maria Alves de Souza Porto e como representante de pleito de sua classe junto ao Governador do Estado, fez-se notar pelo então Governador Lauro Sodré que elogiou os dons oratórios e as sugestões pacíficas preconizadas pelo orador.

Em 1921, transferiu-se para Recife, tendo logo ao chegar àquela cidade, perdido a primeira filha que lhe nascera em Belém. Em Recife, nasceu Maria Isabel (22.11.1921), que passou a ser a filha mais velha durante várias décadas, vindo a falecer no Rio de Janeiro em fevereiro de 1988.

Voltando a Touros para ocupar-se de um cartório (que injunções políticas lhe arrebatariam anos depois), Porto Filho era um doublé de professor e pequeno comerciante e recordo-me de suas passagens por Galinhos e Rio do Fogo. Nessa época nasceram-lhe Eurídice (Dicinha) em 25.11.1923 e José Erasmo (Zequinha) em 02.06.1925. Em 1932, por ato do Interventor Federal no Rio Grande do Norte, foi nomeado Prefeito de Touros, onde realizou profícua administração, tendo permanecido no cargo até fins de 1935, quando a Aliança Liberal dos seus amigos Mário Câmara e Café Filho perdeu as eleições.

Porto Filho transferiu-se para Recife em janeiro de 1936, sendo maldosamente confundido pelos inimigos como simpatizante da Aliança Nacional Libertadora, de inspiração comunista e que sublevou o país em novembro de 1935. Em Recife, com a ajuda de amigos, inclusive Joaquim Cardoso Magalhães Barata, Governador do Pará e com o qual se correspondia havia tempos, foi trabalhar no Fomento Agrícola na cidade de Garanhuns, onde também foi colaborador diário do “Garanhuns Diário” e teve oportunidade de editar o seu “Emoções Rimadas”.

Quase no final dos anos 50, veio juntar-se à família no Rio de Janeiro, quando passou grande parte do seu tempo visitando abrigos de velhos e desamparados, coisa que se coadunava perfeitamente com seu espírito caridoso e benfazejo.

Ao passar umas férias em São Lourenço, foi acometido de um problema abdominal, vindo a falecer de um ataque de uremia no Hospital de Ipanema em 03.03.1958. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista com a presença de um grande número de amigos e de uma Guarda de Honra de Atletas fardados do Clube de Regatas Vasco da Gama, do qual era diretor.

Seus restos mortais repousam hoje no Cemitério de Santo Amaro, em Recife, num belo mausoléu mandado construir por Maria Isabel, que tencionava reunir ali todos os da família que partissem para uma melhor.

Rio de Janeiro, dezembro de 1990.
José Erasmo Porto



No prefácio à primeira edição, o prefaciador diz: O livro de Porto Filho revela um esforço, humilde mas nobilitante, de escafandrismo espiritual: o autor mergulha no passado de sua vida, vida em que, de par com os lances amargos da experiência, perpassa um sopro de ternura humana, para expor ao leitor todo o volume da sua saudade, da sua veneração quase fetichista pela terra natal.

Nota-se, na poesia simples e despreocupada de José Porto, um apego quase panteísta à natureza, a sedução material dos objetos, que ele decanta sem artificialismo e sem enfado”.

Garanhuns, Dezembro de 1940
Heli Leitão

As poesias mais conhecidas de José Porto Filho, publicadas no livro “Emoções Rimadas”, são algumas das que foram musicadas pelo próprio autor, como Ode a Touros, Adeus a Touros, Praieira de Touros, Galo de Campina, Luar de Touros e Parracho Seco, que o leitor pode desfrutar abaixo:


ODE A TOUROS
(Musicada)

Vou cantar a minha vila, que cintila
Sob o clarão do luar...
O MACEIÓ desce encantado e prateado
Em busca do verde mar,
Vagaroso com ciúmes
De seus constantes queixumes
Que ele está a murmurar.

ESTRIBILHO
Touros, meu berço querido
Terra Santa de meus pais:
Não me deixes esquecido...
Touros, meu berço querido,
Escuta, escuta os meus ais!

 
Lembro ouvir o gorjeado vário do canário
Nas claras manhãs de estio.
Sobre o leque dos coqueiros altaneiros
Retratados pelo rio...
Como é lindo, donairoso
Quando o cantar mavioso,
Ensaia o seu enxurrío.

Ao romper das madrugadas as jangadas
Vão singrando à pescaria
Conduzindo os pescadores, sem temores
Da fúria da ventania...
E nesse labor insano
Dominam, enfim, o oceano,
Com arrojo e valentia.

À tardinha, em horas mortas,
Quais gaivotas,
De velas pandas ao vento,
As jangadas que regressam, se apressam
Ao local do encalhamento...
Depois, nas choças de amores,
Esses bravos pescadores
Não soltam um só lamento!



ADEUS A TOUROS
(Musicada)

Vou partir muito tristonho
De minha terra querida...
Adeus meu doirado sonho
Meu coração, minha vida!

ESTRIBILHO
Adeus, ó minha esperança
Minha glória, minha luz...
Conservarte-ei na lembrança
Ó vila do Bom Jesus.


O meu berço, onde nasci
Por entre risos e flores...
Por ti, agora, sofri
Os mais cruéis dissabores.

Não te maldigo, querida
Terra do meu coração:
Tu não me abriste a ferida
De tão negra ingratidão...

Partir, assim, é bem triste!
É acabar com a existência...
Ai! Minha vida consiste
Em sofrer e ter paciência.

Adeus coqueiral virente
Adeus campos, adeus mares:
Vou partir saudosamente
Todo cheio de pezares!


PRAIEIRA DE TOUROS
(Musicada)

Escuta, linda praieira:
Por ti morrerei de amor...
Confia que é verdadeira
A paixão do pescador.

ESTRIBILHO
Praieira de Touros:
Vem ver minha flor,
Os ricos tesouros
Do teu pescador.


O mar é calmo e sereno
As ondas são bonançosas,
Vem molhar teu pé, pequeno
Nas maretas espumosas.

Minha formosa praieira
Vem ver o teu trovador,
E esta jangada veleira
Em que vai teu pescador.

Depois, ó praieira minha!
Dá-me um beijinho de amor,
Até que volte, à tardinha
O teu bravo pescador.

Touros, 1927


GALO DE CAMPINA
(Musicada)

Mal despontava a aurora matutina
Todos os dias vinha me acordar
Um inspirado galo de campina
Que me enleiava com o seu cantar!

ESTRIBILHO
O passarinho é o símbolo do poeta...
As suas mágoas sabe relatar...
Quando ele sente alguma dor secreta:
Tristonho canta; não sabe chorar!


Hoje, no seu cantar foi diferente
Entoando tristonhos estribilhos...
Pensei, saudoso, em minha esposa ausente
Tive desejo de beijar meus filhos!

Meu alado poeta sonoroso
Imploro-te, por Deus, por caridade:
Não cantes mais assim, tão piedoso
Que me partes o peito de saudade!



LUAR DE TOUROS
(Musicada)

Em noites de luar, em minha vila
A linda natureza se retrata,
E o clarão que do além tanto cintila
Convida o trovador à serenata!

ESTRIBILHO
Não pode haver luar, assim tão belo
Como o luar de minha terra amiga...
Cada coqueiro ensaia uma cantiga
No farfalhar do seu leque singelo.

 
O céu se torna transformado em prata
E a terra cheia de ofuscante luz,
Quando o clarão da lua se desata
Em jorros na matriz do BOM JESUS!

Lua branca, que sonhas pelo céu
Nesta ânsia louca de eternal jornada,
Quando das nuvens vais rompendo o véu
Enches de luz a minha terra amada!



PARRACHO SECO
(Musicada)

“Parracho Seco”, de águas aniladas
És encanto de um povo bravo e forte
Tens a magia de lendas encantadas
És o primor dos mares deste Norte.

ESTRIBILHO
Em frente a Costa – branca e altaneira
Orlada de coqueiros verdejantes,
Onde se adora a Santa Padroeira
A milagrosa Mãe dos Navegantes.

 
Tens um lençol de linda maravilha
No panorama de tuas serras pretas:
Águas que lembram a cândida baunilha
Águas que imitam a flor das violetas.

De ti nos afastamos com saudade
Levando-te presente na lembrança,
Porque tu dás prazer à mocidade
Parracho verde – lago da esperança.

4 comentários:

Lindemberg Araújo disse...

Olá Luís, sou professor de História, tourense e também tenho um blog com as poesias de Porto Filho. Tomei a liberdade de retirar algumas informações do seu blog para publicar no meu, as breves notas sobre Porto Filho.

Atenciosamente,

Lindemberg Araújo.

Anônimo disse...

Oi Luiz aqui é Rodrigo Porto Melo,bisneto de Porto Filho,Eu vivo aqui no Rio de Janeiro.
Minha Tia avó,Eurídice tem me deixado curioso sobre a vida de meu bisavô,estou planejando uma viagem a Touros em breve!
Minha vó Maria Isabel faleceu em 1986 e não 1988 como consta ai no blog.

Estou pensando em passar as faixas do cd para o youtube,vou manter contato com vc meu amigo,
Parabéns pelo trabalho!
Abraço.
Rodrigo Porto Melo

Rodrigo Porto disse...

Oi Luiz
É com pesar que informo o falecimento de minha tia avó
Euridice Porto Fults
nesse último dia 06/09/2021 aos 87 anos,em consequência de uma parada cardio-respiratória
Rodrigo Porto Melo

Unknown disse...

Quando cheguei ao Rio, ainda menino, em maio de 1957, morei alguns meses no mesmo apartamento 307 em que residia seu Porto na Rua Marquês de Abrantes 126, telefone 45-1100, Flamengo. Lembro-me de que todo dia ele saia elegantemente trajado e perfumado para trabalhar onde nunca me onde nem nunca perguntei. Vez por outra ele recitava uma posia de sua lavra. Ele parecia bem de saúde e disposição. Fiquei agora sabendo que ele morreria no ano seguinte (1958), mas eu não mais estava no Flamengo. Lembro-me de um trechinho da poesia dele quando fez anos: "Completo anos hoje/ Vê-se em meu rosto/ Que há muito completei esta jornada/ Comemorando a 31 de agosto/ (...)