Rinaldo Claudino de Barros, natural do Recife/PE, apostou no estudo e na vida acadêmica como condição para mudar a realidade social e econômica em que havia nascido. “Minha mãe, empregada doméstica semi-analfabeta, tinha a quarta série primária, só. Então, a análise que eu fazia era: ou eu estudo, ou não tem jeito”, avaliou.
No final dos anos cinqüenta, com idade de 14 anos, Rinaldo trabalhava o dia todo e estudava à noite. Durante os finais de semana participava dos Clubes Literários, que eram comuns durante a administração de Miguel Arraes. Nessa convivência nos Clubes Literários conheceu os ideais socialistas; destacou-se como uma das lideranças estudantis e foi eleito presidente do grêmio escolar. Aos 17 anos foi recrutado para a juventude do Partido Comunista Brasileiro – PCB. “Era um sobrevivente da classe trabalhadora que tava tentando ascender socialmente, pela via da educação. Parece que quanto mais dificuldade o ser humano tem que superar no início de sua vida, parece que vai fortalecendo pra você enfrentar desafios”, esclareceu.
Contraditoriamente, Barros foi aprovado em concurso para trabalhar em um banco norte-americano, o Citibank, já que além da opção política tinha que lutar pela sobrevivência. “Naquela época o sentimento nacionalista era muito exacerbado. Até pasta de dente de uma multinacional você não usava”, falou.
Terminado o segundo grau, fez cursinho para Engenharia e entrou para a diretoria do sindicato dos bancários como forma de superar o fato de ser empregado de uma empresa multinacional. O emprego propiciava aos funcionários um curso regular de inglês, após o expediente. “O que foi muito bom para o mestrado e doutorado posterior”, disse Rinaldo.
Em 1965, um ano depois do golpe militar, veio a primeira prisão e a demissão do banco. Rinaldo distribuía panfleto da luta bancária dentro do banco; passou uma semana na prisão, saindo para responder processo em liberdade.
Trinta dias após ficar em liberdade, veio para Natal com um amigo da mãe e proprietário de uma livraria. O que lhe garantiu o emprego de vendedor de livros na capital potiguar, além do apoio do Partido Comunista, já que trazia uma indicação da militância.
Na tentativa de confundir os militares, optou por escolher a área das Ciências Sociais para estudar. Foi aluno da primeira turma (1966) da Faculdade de Sociologia e Política da Fundação José Augusto.
A luta política passa a ser na faculdade e quando chega o Ato Institucional nº5, o AI-5, de 13 de dezembro de 1968, Rinaldo, presidente do diretório estudantil, não chega a ser preso, mas cassado pelo Decreto-Lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1969, que proibiu a continuidade dos seus estudos por três anos. O jovem líder convocou novas eleições para o diretório estudantil, mas o diretor da faculdade, padre Itamar de Souza, o orientou a indicar um substituto escolhido por ele (o padre). Barros não concordou com a proposta do diretor e foi vítima de um inquérito administrativo.
Proibido de estudar, dedicou-se exclusivamente à luta política. Em 1972 houve um racha ideológico dentro do Partido Comunista Brasileiro - PCB, onde foi criado o Partido Comunista do Brasil, o PC do B. O PC do B dividiu-se em duas alas, uma das quais o Partido Comunista Revolucionário, o PCR, tendo Rinaldo como dirigente. Um cidadão, o qual Barros não quis citar o nome, entregou todos os companheiros que participavam da luta política.
Em março do mesmo ano, o estudante estava como empregado do CETENE, órgão ligado ao Ministério da Educação e se encontrava, a serviço, em São Paulo. Foi procurado pelos militares, no hotel em que estava hospedado, e passou alguns dias sendo torturado pela Operação Bandeirantes, OBAN, lançada oficialmente em junho de 1969, e responsável pela repressão pelos meios mais bárbaros, sob a coordenação do II Exército, em São Paulo.
O jovem foi transferido para Recife, algemado, em avião de carreira, e sofreu 28 dias de tortura. “Eu fiquei rebentado; tenho seqüelas na coluna, tenho costela quebrada, tenho radiografia disso tudo. Eu tinha certeza que ia morrer. Já que eu vou morrer, vou manter a dignidade. Era uma tentativa de suicídio: quando eles me batiam eu partia pra cima, aí eles batiam pra valer e eu desmaiava”, desabafou.
Depois desse período foi para o 16º Regimento de Infantaria, o 16ºRI, em Natal, e ficou durante seis meses; em seguida para a Colônia Penal João Chaves, na Zona Norte de Natal, com duração de um ano e seis meses, na companhia de François Silvestre, Albano Cruz, Maurício Formiga e outros companheiros.
Rinaldo falou que nessa época a polícia escondeu Rubens Lemos na biblioteca da Colônia Penal e os companheiros descobriram. “A gente tinha uma espécie de cumplicidade com a guarda e... nesse dia de Rubens, assim que ele chegou, um soldado veio dizer a gente: chegou um colega de vocês aí e tá escondido da família. Aí eu fui prá grade da biblioteca, ele nunca se esqueceu disso; ele fez até artigo sobre isso. Eu chamei, Rubens; ele chega criou alma nova. O mesmo soldado que veio, quando saiu da guarda, eu fiz um bilhete pra esposa, porque o plano da polícia era desaparecer com ele”, afirmou.
Em março de 1974, Rinaldo saiu da prisão para concluir o curso, segundo ele o mais longo da faculdade, já que concluiu em oito anos. Foi para São Paulo fazer mestrado em Sociologia do Trabalho, na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, em um período de 02 anos e seis meses.
Foi fundador da UNIPEC, hoje Universidade Potiguar, UNP. Em 1987 foi aprovado em concurso para professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN.
A partir de 1996, ocupou cargos de pró-reitor de planejamento e de administração. Nesse mesmo ano foi fazer doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, na Universidade Federal do Paraná – UFPR.
“Depois que o PCR foi dizimado, eu fiquei um tempo só estudando e trabalhando. Aí o PSB, que era clandestino, reorganizou-se em 85, com a abertura. Laércio Bezerra organizou e fez algumas reuniões na casa dele, com quatro, cinco pessoas, aí eu me engajei”, disse Rinaldo.
De 1999 a 2000 foi Secretário de Administração e Planejamento da Prefeitura de Natal, na administração Wilma de Faria. De 2001 a 2004, assumiu a Presidência da Fundação Capitania das Artes – FUNCART.
Atualmente é professor de Antropologia, na unidade da UERN, Zona Norte, que tem os cursos de Direito, Turismo e Informática, além de ocupar o cargo de Diretor Científico da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte – FAPERN.
Na política partidária é responsável pela Cultura e Formação Política da Juventude do Partido Socialista Brasileiro – PSB.
“A gente chega a uma determinada fase da nossa vida que você recebe tanto da sociedade, que chega um ponto que você sente necessidade de dar, de devolver prá sociedade. Eu me sinto altamente privilegiado, apesar de tudo ter sido conseguido com muito esforço, muito sofrimento. Mas eu quero compensar devolvendo à sociedade aquilo que ela me deu. Esse é o sentimento que eu tenho”, finalizou Rinaldo.
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