Discurso proferido por ocasião do
recebimento do título de cidadão tourense, concedido pela Câmara Municipal de
Touros no dia 19 de dezembro de 2013.
Excelentíssimo
senhor presidente da Câmara Municipal de Touros, Diego Cavalcanti de Medeiros, por
meio de quem saúdo todos os demais legisladores desta casa.
Excelentíssimo
senhor prefeito do município de Touros, Ney Rocha Leite, por meio de quem saúdo
as demais autoridades aqui presentes.
Minhas
senhoras e meus senhores, meus conterrâneos.
Eu
sou filho de um “filho das águas do norte”, é assim que começa a canção, de autor
desconhecido, cantada por meu pai, Sebastião Penha da Silva, ao longo de toda a
sua vida, “Eu sou filho das águas do norte, terra santa feliz onde eu nasci”.
A
minha mãe, Neide Penha de Souza, única filha nascida em Natal, a caçula do
casal João Penha de Sousa e Tereza Paula de Souza, meus avós; dizia-se que era
tourense pela paixão e devoção que nutria por esta terra.
Explicar
a minha família, parte Penha da Silva, parte Penha de Souza, é difícil, pois o
sogro de meu pai era tio do pai dele, portanto, João Penha era tio de Francisco
Penha, família originária do distrito de Boa Cica.
Aprendi
desde criança a não ver Touros como a praia de veraneio durante as férias
escolares, mas o lugar de minhas origens, a minha entranha. Era aqui que eu ia
com a minha tia, Maria de Louro, irmã de meu pai, tomar banho no rio das
mulheres, local em que ela levava as roupas de casa para lavar e eu ia para
tomar banho, bem como ao rio da barreira, com os primos, depois de terminado o
banho de mar, por volta de uma da tarde, como descrito na canção Águas de
Touros, de minha autoria.
Era
na casa dessa mesma tia que esperava o seu companheiro, Lourival Colônia,
chegar, por volta das três ou quatro da tarde, com o peixe pescado, e ali
almoçar pirão de peixe fresco. Nessa época as famílias se alimentavam
basicamente da pesca, como também de aves (patos e galinhas) criados no quintal
de casa, coisa já não tão comum nos dias de hoje.
Nessa
mesma época aprendi que lagosta somente podia ser comercializada a partir dos
doze centímetros de calda, na casa do pescador Ozias, vizinho de minha tia.
E
assim foram tantos outros que conheci, Soldadinho, Cabacinha, Zequinha cabelo,
que me levava para pescar lagostinho nas pedras do tourinho.
Esse
Touros do meu tempo era a época em que os que vinham para cá abasteciam o carro
no comércio do senhor Joaquim Gomes. Quantas filas de carro para abastecer com
funil nas latas de combustível de 18 litros, ao lado do cemitério velho, nas
tardes de domingo antes do retorno a Natal.
Esse
Touros do meu tempo era o Touros que tinha como soldados da polícia militar:
Arnaldo, Brito e Murici.
A
casa de meus pais, em Natal, era a extensão da casa dos tourenses que
precisavam ir ao médico, que precisavam resolver problemas pessoais na capital
ou ir para Natal estudar. Quantas famílias não depositaram essa confiança em
meus pais deixando seus filhos na casa deles para darem continuidade a seus
estudos. Muitos seguiam o curso da vida, muitos voltavam com saudade do torrão
amado, parecendo provincianos incuráveis como bem se definia Luis da Câmara
Cascudo.
Lembro-me
de um sobrinho de meu pai que para poder ir residir em Natal, já que o pai não
queria deixá-lo partir, combinou com a minha mãe e foi esperar o carro passar,
nas imediações do hospital municipal, por volta das cinco da manhã. Hoje tem
uma vida empresarial bem sucedida no estado de Pernambuco.
No
tocante à cultura tourense, que sempre foi o carro chefe de minha vida, acompanhei
as noitadas de serenata desde pequeno, junto aos meus pais, Bastinho e Neide, que
cantavam acompanhados ao violão por Quinca Dú, José Maria, José Antão, Raimundo
Colônia e Naldo.
Lembro-me
bem dessa época, criança ainda, da imagem de Dr. Orlando, juiz nesta cidade, merecidamente
homenageado nesta noite, amigo de meus pais, participando de alguns desses
momentos poéticos e culturais.
Não
poderia ser diferente já que a minha família sempre teve ligações com os poetas
tourenses; meu avô, além de compadre de José Porto Filho, era seu
correligionário político.
O
meu tio, padre Penha, capelão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN,
quantas vezes encerrava as missas dominicais da TV Universitária ao som de
violões, com as canções de José Porto e Luís Patriota.
Em
várias das atividades que exerci, dentro das minhas possibilidades, seja na
vida acadêmica ou profissional, procurei sempre exaltar e divulgar o nome de
Touros.
Assim
aconteceu em minha primeira apresentação musical no teatro Jesiel Figueiredo,
no bairro do Alecrim, no dia 03 de agosto de 1987, com o título, “Navegando
pela Vida”, cantando e encantando a praia de Touros, com presença significativa
do público tourense;
Assim
aconteceu na primeira e segunda semana de cultura de Touros, respectivamente,
1988 e 1989, idealizadas pelo amigo João Bosco Araújo Teixeira e por este que
vos fala; assim aconteceu na criação da Fundação Cultural José Porto Filho,
idealizada por Ivanildo Penha, que reeditou o livro “Emoções Rimadas”, de José
Porto Filho e, posteriormente, o CD “Ivanildo Penha e Convidados”, divulgando o
cancioneiro tourense;
Assim
aconteceu quando da instalação da comissão provisória do Partido Socialista
Brasileiro – PSB, neste município, após sua reorganização em 1985, e daí o
lançamento da candidatura a vereador de Francisco Joaquim da Silva, o popular
Zé Mamão, liderança surgida no seio dos pescadores artesanais.
O
pai da atual vereadora Nalvinha obteve 200 votos nas eleições de 1988, em todo
o município. A sua eleição não se concretizou em função de não ter havido
coligação com outras siglas partidárias;
Assim
aconteceu quando de minha candidatura a vereador pelo Partido dos Trabalhadores
– PT, no ano 2000, tendo Cesar Oliveira como candidato a prefeito e Ivanildo
Penha a vice.
Assim
também aconteceu quando da instalação da fábrica de castanha de caju da Vila
Assis Chateaubriand, quando Bosco Teixeira era consultor da Fundação Banco do
Brasil, estando eu nessa luta juntamente com ele.
Todas
essas ações e realizações, sempre pensando em buscar o melhor para o município
de Touros.
Com
as minhas filhas o sentimento é o mesmo. Procuro fazer com que o amor por
Touros seja um amor entranhado, residindo ou não neste município. É sangue que
corre na veia, é raiz.
Nesse
contexto, já me sentia de fato um filho do município de Touros, agora, com a
concessão deste título (por iniciativa de Dione Maria do Nascimento e a
concordância do pleno desta casa legislativa) gostaria de dizer que sou filho
de fato e de direito.
Agora
posso cantar com propriedade, como diz e canta meu pai, na modinha de autor
desconhecido, “Eu sou filho das Águas do Norte, terra santa feliz onde eu
nasci”.
Luiz Cláudio Penha da Silva