sexta-feira, 15 de julho de 2011

A História, o turismo e o Bom Jesus


Na contracapa do CD Touros - Ivanildo Penha e Convidados, lançado no ano 2000, está a seguinte mensagem: “...um povo que não tem memória é um povo que não tem história, um povo que não tem passado é um povo que não terá futuro”.


Os anos de 1988 e 1989 foram de verdadeira efervescência cultural para a cidade de Touros. Inicialmente houve de 03 a 09 de janeiro de 1988, em palanque montado na praia, a primeira Semana de Cultura, com variadas apresentações (mamulengueiro Chico Daniel, Companhia teatral Alegria, Alegria, Babal, Pedro Mendes e o compositor, conhecido nacionalmente, Bráulio Tavares, além das atrações locais e exposições artesanais, etc.). No ano de 1989 as apresentações foram no Circo da Cultura, da Fundação José Augusto – FJA, montado ao lado do atual ginásio de esportes.

Ainda em janeiro de 1989, foi criada a Fundação Cultural José Porto Filho, idealizada pelo médico Ivanildo Penha, que foi a grande responsável pela edição dos dois produtos culturais existentes na cultura tourense: a reedição do livro do poeta José Porto Filho e o CD Ivanildo Penha e Convidados.

Todas essas ações contaram com a participação efetiva do professor João Bosco Teixeira, do médico Ivanildo Penha, do bancário aposentado Iran Potiguar Barroso e dos jornalistas Roberto Patriota e Luiz Penha.
Nesse mesmo período foi adquirido, por iniciativa de Ivanildo Penha, o casarão em que residia o senhor Manoel Cândido, e que tinha por finalidade a restauração para a instalação do Museu de Touros. O casarão foi tombado pela FJA, mas infelizmente a falta de apoio do poder público municipal terminou por não concretizar o projeto.

Uma das idéias de criação do museu tinha como referência o translado do Marco de Touros da Fortaleza dos Reis Magos, onde se encontra atualmente, para o Museu de Touros. Para isso a população foi mobilizada, através de abaixo-assinado; ato esse que contou com a cobertura da Tv Cabugi, no lançamento daquela iniciativa.

Touros, indiscutivelmente, é um município com história e cultura riquíssimas. Não é preciso elencar as suas belezas naturais nem muito menos o seu peso histórico. Basta lembrar que a data de fundação do Estado do Rio Grande do Norte é 07 de agosto de 1501, data em que o Marco de Touros foi chantado na praia dos Marcos.

O que ocorre é que para que um município se imponha histórica e culturalmente no contexto político e econômico de uma região, tem que haver iniciativa dos agentes públicos responsáveis pelas ações administrativas. Com exceção do Centro de Turismo, construído na administração Josemar França, em Touros não há nenhuma política ou projeto voltado para o turismo do município.

É preciso que se tenha consciência de que os historiadores, pesquisadores e escritores, pessoas como o saudoso Nilson Patriota, são a referência intelectual para as iniciativas que devem ser geridas por gestores públicos, e não o contrário.

Ações turísticas, em qualquer região, resguardas as características específicas de cada uma delas, têm que estar calcadas no tripé, História, Cultura e Belezas Naturais.

Em Touros, diante do que já foi descrito nos parágrafos anteriores, poderia existir toda uma política vocacionada para o turismo local em que o visitante ou turista pudesse visitar através de passeios de bugres, o Farol do Calcanhar, o maior da América Latina, a Lagoa do Boqueirão, as Grutas de Boa Cica, além de navegar e conhecer o Parracho Seco. Paralelo a isso, uma política de estímulo a implantação de pequenas pousadas, para que hospedem o visitante e ao mesmo tempo seja fonte de renda para a população local. Não se pode fazer turismo pensando somente em norte-americanos e europeus.

Parracho Seco - Foto Natal On line

A matéria do jornalista Carlos Costa, no www.folhadomatogrande.com.br, em que é apresentada a idéia do empresário Carlos Bezerra, de construção de um monumento ao Bom Jesus dos Navegantes, vai ao encontro da fé e dos que reverenciam o padroeiro de Touros. Ao mesmo tempo, apresenta a iniciativa como uma possível redenção econômica do município.

Bom Jesus dos Navegantes

Acho válida a idéia, diante do crescimento do turismo religioso no Brasil; não ficou claro se a proposta apresentada é uma sugestão aos atuais gestores municipais, ou se é um projeto do empresário ou candidato, Carlos Bezerra, para as próximas eleições municipais. Fica a pergunta, quem vai concretizar efetivamente o projeto?

O meu questionamento surge diante do tratamento que é dado aos monumentos construídos em Touros, tomando como exemplo o marco zero da BR 101, construído pelo arquiteto Oscar Niemeyer; até onde eu sei está abandonado.

O município de Touros precisa de bons e exitosos projetos. Projetos estes postos em prática, não podem ser vítimas do descaso público, ou ainda do que bem disse o ex-governador Cortez Pereira de Araújo ao se referir ao RN: o Rio Grande do Norte padece da descontinuidade administrativa.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Lembranças de Fulano, Sicrano e Beltrano

Imagem blog:educomunicação

Em um dia de profunda melancolia, o professor João da Silva resolveu remeter uma carta para o jornal mais lido de sua cidade, onde desabafou sobre a realidade da educação e sobre o movimento grevista iniciado pelos professores da escola Esperança no Amanhã, onde leciona, juntamente com todos os educadores da rede estadual de ensino.

Estou há trinta e cinco anos no magistério público. Foi a profissão que escolhi e abracei para me realizar profissionalmente. No começo me sentia valorizado, era respeitado pelos meus alunos e me orgulhava de vê-los chegar a uma graduação e saber que dei minha contribuição para que eles tivessem a oportunidade da realização profissional, assim como eu tive.

Passaram-se os anos, o país cresceu, se desenvolveu, mas algumas categorias profissionais passaram a ser vítimas do descaso e do descompromisso com o futuro. Esse descompromisso teve como uma de suas maiores vítimas os profissionais do magistério.

Ao olhar para um passado não muito distante, vejo o quanto está desvalorizada a profissão que abracei. Ela não desperta o menor interesse por parte dos jovens. Contraditoriamente, dizem até que aqueles que não estudaram o bastante para galgar outras profissões terminam optando por ser professor. Vejam a que ponto nós chegamos.

O meu país, hoje, ainda tem uma taxa significativa de analfabetos, os critérios de avaliação nas escolas são questionáveis e a chamada progressão continuada é objeto de críticas, dentre outros questionamentos passíveis de discussão quando se trata da qualidade da educação.

Ao refletir e ao mesmo tempo revisitar instantes vivenciados em sala de aula, relembro nomes de alunos, os quais ficaram marcados em minha memória, dentre tantos nomes de jovens com as quais convivi nas mais diversas escolas em que lecionei.

Dos nomes de alunos que convivi e que me recordo nesse momento, destacam-se Fulano, Sicrano e Beltrano. Coincidentemente, Fulano é o atual Governador do Estado, Sicrano é o Presidente do Tribunal de Justiça e Beltrano é Deputado Estadual.

Atualmente a minha categoria profissional está envolvida em mais um movimento grevista, lutando por salários mais dignos, mas a proposta que Fulano oferece é irrisória e indigna para o exercício pleno da profissão.

Em função do prolongamento da greve, Fulano resolveu levar a discussão para as instâncias judiciárias. Sicrano, que é Presidente do Tribunal de Justiça, juntamente com os seus pares, decidiu pela ilegalidade da greve.

Beltrano, que é deputado, eleito pelo povo, declarou em um jornal da cidade que todos os professores grevistas deveriam ser demitidos, já que não queriam trabalhar.

Diante de tais fatos, fico a me perguntar onde foi que eu errei durante esses trinta e cinco anos de magistério.

Com todos esses contratempos, ainda acredito que é impossível pensar um futuro sem educação. Educação de qualidade. Educação com professor bem pago em sala de aula, ajudando a construir cidadãos comprometidos.

Mesmo assim, por tanto acreditar, faço meus os versos do poeta: “Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim...”. Concluiu o professor João da Silva.

domingo, 3 de julho de 2011

sábado, 2 de julho de 2011


ABC do Sertão
Composição: Zé Dantas / Luiz Gonzaga

Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender um outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê

O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê

Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê

Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê

O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê

Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê

A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê

Atenção que eu vou ensinar o ABC
A, bê, cê, dê, e
Fê, guê, agâ, i, ji,
ka, lê, mê, nê, o,
pê, quê, rê, ci
Tê, u, vê, xis, pissilone e zê


Língua
Caetano Veloso

Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões

Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias

Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que essa lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó

O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas

E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó

O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção

Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(- Será que ele está no Pão de Açúcar?
- Tá craude brô
- Você e tu
- Lhe amo
- Qué queu te faço, nego?
- Bote ligeiro!
- Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
- Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
- I like to spend some time in Mozambique
- Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.