terça-feira, 5 de outubro de 2010

Touros carece de líderes políticos


Bandeira do município de Touros


Após a Assembléia Constituinte de 1988, o primeiro prefeito eleito no município de Touros, para a gestão 1989/1992, foi o ex-secretário de Administração da gestão Pedro de Andrade Ribeiro, Carlos Alberto Câmara de Carvalho, o Carlão.

Carlão, a princípio, estava ligado ao grupo que havia fundado o Partido Socialista Brasileiro – PSB, no município, o professor João Bosco Teixeira e este articulista. As articulações eram construídas em torno da candidatura dele, Carlão, para prefeito de Touros, pela sigla socialista, o que não ocorreu, saindo o ex-secretário municipal candidato a prefeito pelo Partido Liberal – PL, do ex-deputado federal Flávio Rocha. Mesmo com essa demonstração de fisiologismo político, o candidato obteve o apoio da sigla socialista, chegando ao poder municipal nas eleições de 1988, pela maioria dos votos dos tourenses, fruto do carisma que transmitia ao eleitorado.

Apesar dos compromissos assumidos em prol de uma administração voltada para o interesse dos menos favorecidos socialmente, não foi o que ocorreu no decorrer da gestão, tornando-a apática; o que descambou para o impeachment ocorrido no início de 1992, com o apoio do PSB, que antes apoiava Carlão, assumindo o vice, Josemar França.

Historicamente em Touros, os que se acham lideranças políticas no município, costumam construir as suas carreiras alicerçadas no sobrenome familiar, com uma administração focada no patrimonialismo e no nepotismo, tentando passar o poder de pai para filho, e quando muito as realizações são obras físicas, deixando para segundo plano uma administração calcada na qualidade da educação, saúde e investimentos na qualificação profissional dos munícipes, desfavorecendo o crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, do município.

Pode-se dizer que os únicos dois momentos da história política recente de Touros em que os candidatos a prefeito não tiveram origem na tradição política familiar, foram a eleição de Carlão, em 1988, e a candidatura de Cesar José de Oliveira, pelo Partido dos Trabalhadores – PT, no ano 2000, quando foi oferecida à população, a oportunidade de votar em um candidato originário dos movimentos sociais ligados aos trabalhadores do campo.

Não há pecado em pertencer a famílias tradicionais e exercer a política partidária. O pecado reside no fato de transformar o partido político em uma agremiação familiar e o poder executivo em uma plataforma para suceder a parentada a cada eleição. Afinal, já dizia o filósofo que o homem é um animal político.

Contrastando essa análise das “lideranças” tourenses com as características inerentes a um líder: motivação para uma causa, investimento na formação de outros líderes, carisma, habilidade de negociação ouvindo as outras pessoas e foco nos objetivos, percebemos que esses traços não são característicos dos que se acham líderes políticos no município de Touros.

Geralmente, terminado o processo eleitoral, esse “líderes” somem do município, sem uma inserção no dia a dia da comunidade para o debate dos problemas existentes, tentando encontrar saídas e soluções.

Faz-se urgente uma reforma política no Brasil, que se traduza em menor número de partidos com maior nitidez ideológica, e que permita o surgimento de novas lideranças políticas, advindas dos movimentos sociais e inseridas no dia a dia da comunidade (professores, pescadores, agricultores, profissionais liberais, funcionários públicos, estudantes, etc) e não “líderes” fabricados em práticas políticas tradicionais que somente garantem a sustentação, no poder público, dos defensores do patrimonialismo e do nepotismo.


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