Último depoimento dado por Marcos Maranhão antes de morrer
Marcos Maranhão
O depoimento de hoje relata um pouco da trajetória de Marcos Cavalcanti Maranhão, que não foi uma vítima direta da ditadura militar de 1964, mas estava na relação dos Anistiados políticos do RN, como representante do seu pai, Djalma Maranhão, ex-prefeito de Natal, retirado do poder pela ditadura militar e impedido de exercer o mandato por impeachment votado pela Câmara Municipal de Natal, no dia 02 de abril de 1964. Marcos, devido a problemas graves de saúde, enfrentados há cerca de 10 anos, morreu em casa, no dia 10 de julho de 2006.
“Marcos, meu filho; um grande abraço. O homem que se preocupa em ocupar o seu lugar dentro da sociedade em que vive, descortinando horizontes em novos ângulos, marcando a transição de um período que se ganha quando se ultrapassa a maioridade...
Entre os esportes e a literatura, preferiu ser um intelectual, um devorador de livros, deixando permanentemente desarrumada a biblioteca do pai... Meu filho: esta carta não é nenhum testamento... É a conversa franca de dois homens. Um mais idoso e outro mais jovem. Ainda espero viver bastante. E a vida não é somente luta e trabalho. O homem e a mulher necessitam divertir-se. A outra face. O lado ameno. Música e poesia. Um pouco de vinho, sim vinho, porque o vinho está nas Escrituras!... E na tua idade é a ideal para todas estas coisas. Aproveita. Aproveita bem.”
Este é o trecho de uma carta enviada, de Montevidéu, Uruguai, datada de 20 de agosto de 1968, por Djalma Maranhão, durante o seu período de exílio, para o filho Marcos Cavalcanti Maranhão, quando Marcos completou 21 anos. A carta está publicada no livro “Cartas de um Exilado”, juntamente a uma série de outras cartas enviadas por Djalma, para amigos e familiares.
Marcos foi estudante do Atheneu Norte-rio-grandense e a sua formação foi nas áreas da Sociologia, da História e do Direito. Não foi um estudante que demonstrasse interesse pelo ingresso na atividade política, como eram as tendências do seu pai Djalma e do tio Luis Maranhão Filho. “Quem Não passou pelo Atheneu pode dizer aquele verso: passou pela vida e não viveu. O Atheneu foi a grande escola de civismo, a grande escola de companheirismo. Era uma turma muito entusiasmada, muito boa; de grande amigos”, relatou Marcos.
Djalma Maranhão
Segundo relata Mailde Galvão, no livro: “1964. Aconteceu em Abril”, Djalma Maranhão foi prefeito de Natal até 02 de abril de 1964. “Não consegui testemunhas do momento em que foi efetuada a prisão; apenas dois funcionários viram o prefeito descer a escada de saída para a rua, escoltado por oficiais do Exército... O prefeito foi conduzido ao Quartel-General do Exército, àquele tempo localizado na praça André de Albuquerque; e levado a presença do coronel Mendonça Lima... O coronel lhe propôs que renunciasse ao cargo de prefeito e, em troca, teria assegurada a liberdade. O prefeito recusou em nome da honra e do povo que o elegeu; foi então, levado preso, incomunicável, para uma cela do quartel do 16º RI”. (GALVÃO, 2004 a, p. 49).
Durante o período de exílio de Djalma Maranhão, no Uruguai, Marcos viajou diversas vezes na companhia da sua mãe, Daria Maranhão, a Montevidéu. ...“Marcos, que não o acompanhou ao exílio, mas visitou-o quatro vezes, com passagens oferecidas pelo então senador Dinarte Mariz. Marcos recorda a enorme saudade que ele sentia e a ansiedade com que aguardava o fim da ditadura.” (GALVÃO, 2004 a, p.218).
“Meu pai, Djalma Maranhão, jornalista, diretor e dono de jornal, deputado estadual, deputado federal, foi uma das grandes figuras do Rio Grande do Norte. Foi cassado pelo golpe de 1964; depois ele foi libertado da prisão, por habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal, e foi para Montevidéu. Lá ele morreu de enfarte e foi sepultado aqui em Natal, no cemitério do Alecrim. Eu tenho muita honra em ser filho de Djalma Maranhão. Fico, ainda, emocionado, hoje, em falar sobre esta figura tão ilustre. Um homem tão honesto; um homem tão organizado, no sentido de esperar a volta do Brasil à comunidade democrática. Djalma Maranhão deveria ser todos os dias lembrado nas escolas, nas escolas publicas, nas escolas particulares, como um grande a ser seguido aqui no Rio Grande do Norte”, desabafou Marcos Maranhão.
Marcos, depois de formado, advogou e foi professor na antiga Faculdade de Sociologia da Fundação José Augusto, onde ensinou Sociologia e Ciência Política. Foi professor da Academia de Polícia e freqüentou a Escola Superior de Guerra – ESG.
A atividade a que Marcos se dedicou com paixão, segundo relato dos amigos, foi a pesquisa histórica e o estudo da vida dos vultos históricos brasileiros. “Eu publiquei O Forte dos Reis Magos e a História Colonial do Rio Grande do Norte, aliás, com o prefácio muito honroso de Enélio Petrovich,” disse Marcos.
Marcos Maranhão foi uma figura polêmica em sua geração, por ser uma vítima indireta do golpe militar de 1964, já que seu pai, Djalma Maranhão, foi impedido de exercer a cidadania como político, no exercício do mandato, e ele (Marcos) ser tão próximo das autoridades militares, sendo convidado para diversas palestras e com uma infinitude de condecorações e diplomas oferecidos pelas forças militares como: Medalha de Ouro de Amigo da Marinha; Diploma de colaborador Emérito do Exército, o que pode ser atestado na sala da residência em que o historiador residia.
Por indicação de um grupo de intelectuais, Marcos Maranhão foi indicado para sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHG. Foi admitido como vice-orador da entidade. “A minha convivência com Marcos foi no plano cultural, aqui no Instituto. Ele é um estudioso da nossa história, pesquisador. Ele lia uma página e reproduzia totalmente de cor. Dinarte, era a quem ele idolatrava; é natural, que apoiou o pai dele. Quando o pai dele morreu, trouxe (Dinarte) os restos mortais dele (Djalma) pra Natal. Ele tem essa gratidão e é muito justo. Em admirar o pai e ao mesmo tempo enaltecer os vultos das Forças Armadas, que ele era conhecedor profundo da vida de Tamandaré, de Caxias, não vejo nenhum conflito”, relatou Enélio Petrovich.
Marcos Maranhão casou-se em 1986, com Lúcia Fontoura, professora da UFRN.
Nos jornais “A Tribuna do Norte, em 21 de janeiro de 2001 e “A Verdade”, de fevereiro do mesmo ano, Marcos publicou um longo artigo intitulado: “Djalma Maranhão”, descrevendo a trajetória do político, nacionalista, ser humano, cidadão e pai de família, que foi Djalma Maranhão.
Marcos Maranhão foi Procurador Geral do município de Natal e Assessor jurídico do Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN.
Este depoimento contou com a colaboração do próprio Marcos Maranhão, gravado no dia 16 de junho; do advogado Enélio Petrovich e da irmã de Marcos, Ana Maria Cavalcanti Maranhão, que reside atualmente em Brasília.
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