Por volta de 1965, estudante do ensino secundarista, Alvamar Costa de Queiroz teve o primeiro contato com militantes do Partido Comunista Brasileiro – PCB, que lhe mostravam revistas de origem russa sobre o socialismo, a igualdade e a distribuição da riqueza. “Quando eu olhava pro nosso povo e via a miséria, isso me dava uma revolta. E daí eu começava a sonhar que a única saída era o socialismo, o comunismo”, expressou.
Alvamar, estudante do colégio Padre Monte, participava do encontro que havia com estudantes, intelectuais, anarquistas e artistas, na livraria Universitária, na Pracinha das Cocadas (atual praça Kennedy) no bairro da Cidade Alta. O despertar do jovem idealista para a leitura dos clássicos (Máximo Gorki, Dostoievski, Victor Hugo) veio da convivência com essas pessoas. “Eu lembro de uma pessoa que eu tenho a maior admiração; o Luiz, da antiga Universitária, de Ismael Pereira. Uma figura interessante, um intelectual; de uma capacidade muito grande de incentivar a leitura e ele me incentivava muito à leitura. Luiz foi o maior livreiro que eu conheci até hoje”, disse.
Posteriormente vieram as leituras mais especializadas sobre o materialismo dialético, o materialismo histórico, o marxismo, que eram de difícil compreensão, pela pouca idade do jovem Queiroz. “Praticamente eu não tive uma infância e uma juventude. Eu não consegui viver, na minha época, a brincadeira das crianças. Com dezesseis anos eu já tava interessado nas questões sociais”, afirmou.
Filho de uma família católica conservadora, Queiroz foi coroinha nas missas do padre Nivaldo Monte (atualmente Arcebispo Emérito de Natal) e da igreja do Bom Jesus, no bairro da Ribeira, como estudante do colégio Salesiano. “Tive a mala arrumada pra ir pro Seminário e depois desisti”, externou.
O pai, ex-combatente, era de um arraigado patriotismo e anticomunista. “A relação com a família era conflituosa. Eu passava uma imagem de uma pessoa inconformada e de muita revolta com a questão social. Meu pai, por ser um homem sem conhecimento, não conseguia entender esse universo, ele não entendia que revolta era essa, que inconformação com a vida era essa, se ele mantinha a casa com comida, com estudo, com roupa, com tudo que nós necessitávamos”, explicou.
Já como militante ativista e estudante do Atheneu Norte-rio-grandense conheceu, através da Juventude Operária Católica – JOC, o padre Thiago Theisen (atual pároco de Santa Catarina) que realizava um trabalho na Favela do Maruim, no bairro das Rocas. “Um momento interessante da minha vida foi quando eu conheci o padre Thiago, das Quintas. Esse padre, uma figura extraordinária, que tinha um trabalho muito interessante no Maruim. Ali nós fazíamos um trabalho social; distribuíamos alimentos da Aliança para o Progresso. A gente tirava o alimento das latas, pra não ficar aquela Aliança para o Progresso; nós tínhamos uma posição contrária ao governo americano. Daí nós fazíamos a distribuição de alimentos naquela região, com o objetivo de sensibilizar e conscientizar os trabalhadores para a sua realidade. Era esse o nosso trabalho junto à igreja”, disse.
Depois de passar pela Frente Revolucionária Popular – FREP, pertencente ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário – PCBR, e Partido Comunista Revolucionário – PCR, Alvamar foi para a prisão em 1971, onde ficou recolhido por um ano, entre o 16º RI, Base Naval de Natal, Colônia Penal Dr. João Chaves e Batalhão de Engenharia. A prisão foi decorrente de pichações: “Abaixo Meira Matos!”, com lápis cera, contra a vinda do general Carlos de Meira Matos, do 16º Batalhão de Caçadores, de Cuiabá-MT, que estava para chegar a Natal. O general foi um dos ideólogos do regime militar e autor de livros como “Pensamento Revolucionário Brasileiro”. “Isso foi suficiente pra uma prisão, pra tortura, pra um desmantelo de vida. A pessoa que passa pela tortura (psicológica e física) desestrutura a pessoa. Eu cheguei a ser preso cinco vezes, antes de ficar recolhido durante um ano”, desabafou.
Após esse período de reclusão e tortura, Alvamar casou-se com uma companheira de militância, mas teve que seguir sozinho para a casa de familiares no Rio de Janeiro. De lá foi para Brasília, através de um parente deputado federal, com quem pensou em pegar algum dinheiro para sair do Brasil. Foi desaconselhado pelo deputado e passou 17 anos na capital federal. Não podia trabalhar nem estudar. “Ao sair da prisão, eu tive um contato com um entalhador, aqui do Rio Grande do Norte, chamado Manxa. Muito conhecido, muito famoso. E com o Manxa eu aprendi muito a entalhar, a incrustar cobre na madeira. Esse aprendizado foi muito bom pra minha vida, porque ao chegar a Brasília eu fui pra feira hippie; e na feira hippie eu passei a fazer parte daquele grupo que fazia as bugigangas pra sobreviver”, afirmou.
Em 1975, em Brasília, com muita depressão, angústia e conflito interior, Alvamar conheceu o Budismo. A partir daí reascendeu a esperança e a possibilidade de ajudar a construir a felicidade dos outros sem ser alienante.
Fazia concurso público e não ficava em alguns empregos, pois o passado de militante político ia de encontro a Lei de Segurança Nacional.
Após ter parado os estudos no segundo ano clássico, no Atheneu Norte-rio-grandense, concluiu o estudo secundário em um supletivo, em Brasília. Em 1978 formou-se em Geografia (licenciatura plena); dedicou-se ao ensino em várias escolas.
Em 1981, através de concurso, conseguiu ficar na Secretaria Especial de Meio Ambiente. Em 1990, a Secretaria passou a ser o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA. “Eu dizia muito que era a última coisa que eu queria ser na vida era servidor público. Por isso que muitas vezes eu passava num concurso e abandonava, porque não concebia esse ritmo muito lento, muito burocrático, muito difícil de executar as coisas. Quando eu abandonava o serviço público, caía num biscate. Eu fiz de tudo pra sobreviver (tentei ser vendedor, ser representante). Na Secretaria do Meio Ambiente eu dizia pras pessoas, desse ano eu não passo. Aí eu fui tomando gosto,” assinalou.
Participou da criação do PT; voltou ao trabalho de militante, nas favelas, com os sem-teto; participou do processo de redemocratização, através da aprovação da emenda Dante de Oliveira e foi candidato a deputado federal, em 1986. Especializou-se em Desertificação, em Educação Ambiental e em Gestão Ambiental.
A Secretaria Nacional de Meio Ambiente enviou Alvamar para o Nordeste, com a missão de sanar irregularidades em unidades da região. Com a intenção de voltar para a sua terra, o geógrafo ficou definitivamente como chefe responsável pelas estações ecológicas do Seridó/RN e Mamanguape/PB. Deixou um substituto na Paraíba e ficou trabalhando somente no Seridó. Nesse período fez mestrado e doutorado na área de educação, na UFRN.
Na época em que atuou na Estação Ecológica do Seridó, casou-se pela segunda vez com uma caicoense.
Hoje, como praticante do Budismo e vice-responsável da organização, em nível de Estado, disse: “É nessa organização que eu reconstruí a minha vida, que eu refiz o meu pensar e minha trajetória de vida. Eu entendo que cada ser humano tem a centelha da iluminação, por pior que ele seja. Essa centelha precisa ser tocada; no momento tocada, você pode mudar sua vida e começar a construir um mundo de paz”.
Atualmente Alvamar Costa de Queiroz é gerente executivo do IBAMA. “Os servidores do órgão indicaram o meu nome. No dia em que eu sair daqui, eu sou aquele educador que vai voltar lá pra salinha da Educação Ambiental”, finalizou.